Segundo E. Soura e A. Stratigos – em editorial publicado em outubro deste ano no JEADV – apesar de o diagnóstico de melanoma ter passado por mudanças importantes nos últimos anos, surge uma nova questão: essas mudanças realmente melhoraram os desfechos e a sobrevivência dos pacientes? Infelizmente, essa resposta não é tão simples.
A iniciativa de Schleswig-Holstein, na Alemanha, trouxe resultados mistos. Cerca de 360.000 pessoas foram rastreadas, com 90% dos melanomas detectados com espessura menor que 1 mm. Cinco anos após o rastreamento de 12 meses, a mortalidade por melanoma parecia ter diminuído naquela região, mas em áreas adjacentes nada mudou. Contudo, essa redução inicial na mortalidade não se manteve, e dois anos depois as taxas retornaram ao nível anterior. O U.S. Preventive Services Task Force atualizou as evidências sobre prevenção e rastreamento do melanoma, não encontrando benefícios claros para a sobrevivência, embora não tenha identificado danos significativos para os pacientes. Em geral, o rastreamento foi associado ao diagnóstico de lesões mais finas. Um estudo comparando pacientes rastreados e não rastreados mostrou que os rastreados tinham mais chances de serem diagnosticados com melanoma in situ (MIS) ou melanomas finos (≤1 mm).
O sobrediagnóstico não é novo na epidemiologia do câncer. Uma meta-análise recente indicou que até 27% e 17% dos casos de câncer de mama e de ovário, respectivamente, podem ser sobrediagnosticados. Além disso, para cada vida salva no rastreamento do câncer de mama, há 136 falsos positivos, 21 biópsias desnecessárias e 3 sobrediagnósticos. Cânceres de pulmão, fígado, mama, ovário e próstata foram discutidos nesses dados, mas o melanoma ficou de fora por falta de dados epidemiológicos robustos. Sem ensaios clínicos randomizados para melanoma, ainda não é possível quantificar os resultados do rastreamento para câncer de pele de forma eficaz.
No caso do melanoma, faltam diretrizes oficiais sobre quem deve ser rastreado e com que frequência. Um estudo recente mostrou que dermatologistas são os segundos especialistas mais visitados em 24 meses e os principais para cânceres de pele na Europa. A verificação de nevos ou rastreamento de câncer de pele é o motivo mais comum para visitas ao dermatologista. Na iniciativa Schleswig-Holstein, 620 pessoas precisaram ser rastreadas para detectar 1 melanoma. Esses dados, sustentados por outros estudos, indicam que o rastreamento populacional não é eficaz. Esses resultados podem ser enviesados, pois pessoas que buscam rastreamento são, em geral, mais preocupadas com a saúde. Um estudo recente mostrou que pacientes com MIS primário têm melhor sobrevida que a população geral, indicando que os programas de rastreamento talvez não atinjam quem mais precisa. O mesmo estudo mostrou que pacientes acima de 80 anos têm maior risco de morte específica por melanoma comparados aos de 60 a 69 anos (7,4% vs. 1,4%). Em homens com 65 anos ou mais, pode ser necessário até 20 excisões para encontrar um melanoma; em homens de 20 a 49 anos, esse número sobe para mais de 50. Um consenso recente apoia uma abordagem de rastreamento estratificada por risco.
E o rastreamento do câncer de pele pode melhorar os resultados sem causar danos? Ensaios clínicos de alta qualidade são necessários para gerar dados sólidos sobre o sobrediagnóstico de cânceres de pele, o potencial maligno de melanomas in situ e a estratificação de risco apropriada para melanomas finos. Criar registros abrangentes de melanoma, incluindo abordagens de tratamento e eficácia, ajudaria a entender melhor o comportamento desses tumores. Painéis de especialistas também poderiam desenhar programas de rastreamento realistas para grupos de alto risco e intervalos de rastreamento personalizados para cada paciente. O rastreamento do melanoma é essencial, mas, como em outros cânceres, ajustes baseados em dados científicos são necessários para otimizar os resultados para pacientes, sistemas de saúde e médicos.
Leia aqui o artigo na íntegra
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jdv.20227
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