Muito tem se discutido sobre o uso do ChatGPT e da inteligência artificial (IA) na medicina.
Em seu editorial de fevereiro, intitulado “ChatGPT: amigo ou inimigo?”, o The Lancet Digital Health listou dois trabalhos em que a capacidade da ferramenta de realizar relatórios médicos foi evidenciada. Porém, em ambos os casos, erros potencialmente prejudiciais também ficaram evidentes – como adicionar informações extras que não faziam parte do prontuário do paciente e a falta de achados médicos importantes. “Tais erros sinalizam que, se implementados na prática clínica, seriam necessárias verificações manuais de resultados automatizados”, indica o texto.
E com a evolução da tecnologia as políticas editoriais também precisam evoluir. Preocupada com o uso da IA e tecnologias assistidas por IA na redação científica, a Elsevier introduziu uma nova política, estabelecendo que o uso deve ser limitado a melhorar a legibilidade e a linguagem do trabalho, devendo ser declarado no manuscrito. Ainda, os autores devem fazer verificações manuais de qualquer saída gerada por IA.
Otimismo e, acima de tudo, parcimônia e ética
Em contrapartida, um artigo da American Academy of Dermatology Association nos lembra que, na dermatologia, a IA auxilia os dermatologistas no diagnóstico de cânceres de pele, e combinar os desempenhos dos dois grupos resulta em um desempenho ainda melhor. É importante observar, no entanto, que os resultados são baseados em configurações de estudo controladas artificialmente.
De acordo com o dermatologista Warren R. Heymann, editor do site da American Academy of Dermatology, precisamos nos preparar, discutir, modificar, crescer e repetir o processo conforme for necessário. “O ChatGPT afetará todos os aspectos de nossas vidas e, como toda ferramenta, tem o potencial de aprimorar, estimular, confundir e devastar. O primeiro passo é ter fé no produto. Eu dirijo um Tesla, mas não tenho total confiança no software de piloto automático para usá-lo”, afirma o especialista.
Com uma abordagem otimista, Dr. Heymann perguntou ao ChatGPT como a ferramenta deve ser usada na dermatologia. Segue a resposta:
“O ChatGPT é uma ferramenta de Inteligência Artificial que pode ser usada para auxiliar os dermatologistas em suas práticas, fornecendo-lhes informações e orientações relevantes sobre várias condições dermatológicas. Por exemplo, o ChatGPT pode ajudar os dermatologistas a identificar lesões de pele, recomendar opções de tratamento e fornecer educação ao paciente.
No entanto, é importante observar que o ChatGPT não substitui a experiência de um dermatologista e deve ser usado apenas como uma ferramenta para auxiliar no diagnóstico e tratamento. A dermatologia é um campo complexo que requer anos de treinamento e experiência, portanto, qualquer decisão sobre o atendimento ao paciente deve ser sempre tomada por um dermatologista qualificado.”
Dr. Heymann afirma que ele mesmo não poderia ter dito melhor.
Para saber mais, leia os artigos completos:
https://www.thelancet.com/journals/landig/article/PIIS2589-7500%2823%2900023-7/fulltext
Ferreira AL, Lipoff JB, The complex ethics of applying ChatGPT and language model artificial intelligence in dermatology, Journal of the American Academy of Dermatology (2023), doi: https://doi.org/10.1016/j.jaad.2023.05.054.