Veganismo e problemas cutâneos: há benefícios em uma dieta baseada em vegetais?


Atualmente, diversas pessoas têm adotado uma dieta vegana como sinônimo de saúde ou devido aos impactos ecológicos e éticos da pecuária. Porém, ao falarmos sobre os benefícios potenciais do veganismo para o tratamento ou prevenção de doenças cutâneas, encontramos uma lacuna na literatura.

Além disso, muitas publicações dermatológicas não estabelecem diferenças entre dietas vegetarianas e veganas, e os poucos artigos sobre uma população vegana específica mostraram deficiências nutricionais, sugerindo que é improvável que os participantes do estudo tenham seguido uma dieta bem balanceada.

Diante deste cenário, a dermatologista italiana Marta Fusano analisou as vantagens de uma dieta vegana nutricionalmente completa para pacientes com acne, psoríase ou dermatite atópica, publicando sua opinião no periódico Clinics in Dermatology.

Dieta vegana e acne 

Segundo Fusano, uma dieta baseada em vegetais pode ser benéfica para peles acneicas por diversos motivos. “A patogênese da acne envolve produção excessiva de sebo, hiperproliferação de Cutibacterium acnes, hiperqueratinização dos folículos pilossebáceos e inflamação. O aumento da atividade dos hormônios androgênicos e do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) pode levar ao excesso de produção de sebo.”

Dessa forma, por conter isoflavonas e fitoestrógenos, que se opõem à produção de sebo induzida por andrógenos, a ingestão de produtos à base de soja parece reduzir a incidência de acne.

 

Os benefícios dos vegetais na dermatite atópica (DA) e na psoríase 

Como pacientes com dermatite atópica também podem apresentar alergia alimentar, existe a possibilidade de que tais dietas possam colocar o paciente em risco de desenvolver deficiências nutricionais.

Porém, a especialista lembra que “qualquer dieta mal planejada, mesmo onívora, pode levar a deficiências nutricionais e alterações no crescimento.”

Dessa maneira, segundo ela, uma dieta rica em gordura e pobre em fibras pode alterar o microbioma intestinal, causando um desequilíbrio do eixo intestino-pele capaz de desencadear uma resposta inflamatória. “A introdução de prebióticos parece ser útil na redução da gravidade da dermatite atópica e sua incidência.”

Fusano menciona também o papel antioxidante e imunomodulador dos vegetais, que podem afetar o componente inflamatório da dermatite, e a hipótese de um papel protetor da vitamina B12.

“Um menino que sofria de DA severamente recorrente apresentou melhora na suplementação de B12; no entanto, este é apenas um único relato de caso. Se confirmada, esta observação pode diminuir a dermatite atópica naqueles que seguem uma dieta predominantemente baseada em vegetais e garantir que ela seja bem balanceada com a suplementação de vitamina B12.”

A autora afirma que diversos estudos demonstraram que dietas ricas em antioxidantes – contidas em alimentos como vegetais de folhas verdes, frutas, tomates e cenouras – podem ajudar a diminuir as lesões cutâneas.

“Pacientes com psoríase devem aumentar a ingestão de frutas e vegetais frescos e incluir alimentos ricos em polifenóis, como chá, café, ervas e especiarias.”

De acordo com Fusano vários antioxidantes (além dos ácidos gama-linolênico e alfa-linolênico) estão amplamente disponíveis na dieta vegana, sendo diretamente relacionados a uma pele mais saudável e ao tratamento e prevenção de problemas cardiometabólicos associados à psoríase.

 

Conclusão

Não existem estudos randomizados extensos e bem conduzidos que analisem a relação entre uma dieta vegana e doenças de pele. Entretanto, segundo a autora, alguns dados sugerem que uma dieta baseada em vegetais pode desempenhar um papel no tratamento dessas doenças. “Tanto a introdução de alimentos de origem vegetal quanto suplementos de vitamina B12 podem ter um papel bioquímico protetor. Além disso, a redução da produção de alimentos e derivados de origem animal pode ter um impacto ambiental positivo.”

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