Estudo de caso-controle: bronzeamento artificial e risco aumentado de múltiplos melanomas primários


Constantemente vemos notícias como “mulher sofre queimaduras após procedimento de bronzeamento artificial”, e, apesar da proibição da técnica em território nacional, infelizmente esses casos não param de acontecer.

Em 2009, uma Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa (RDC 56/09) proibiu o uso das câmaras de bronzeamento artificial no Brasil. A ação foi embasada na inclusão da exposição às radiações ultravioletas na lista de práticas e produtos carcinogênicos para humanos, efetuada pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão intergovernamental que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Comprovações científicas dos danos 

Além da proibição da Anvisa diversos estudos científicos já comprovaram os efeitos danosos que as câmaras de bronzeamento artificial causam à saúde da pele. Recentemente, um artigo publicado no JAAD por Roth A. et al. (novembro, 2022), apresentou os resultados de um estudo de caso-controle sobre a associação entre o bronzeamento artificial e o aumento do risco do surgimento de múltiplos melanomas primários.

Para o estudo foram incluídos 453 pacientes – 335 com um único melanoma primário (SPM) e 118 com múltiplos melanomas primários (MPMs). Os pacientes foram estratificados por uma história de mais de 10 exposições de bronzeamento artificial ao longo da vida versus nenhuma exposição. A proporção de pacientes com mais de 10 exposições aumentou de 65/335 (19%) para pacientes com SPM para 10/19 (53%) para aqueles com 4+ MPMs. O risco associado para múltiplos melanomas primários foi significativo para melanomas 2+, 3+ e 4+ em análises univariadas e multivariadas.

Os autores também realizaram uma revisão sistemática da literatura e meta-análise para comparar o risco de MPMs associados às mutações germinativas mais comuns em melanomas familiares.

“Calculamos a razão de chances para MPMs associados a bronzeamento artificial, histórico familiar e uma mutação germinativa que predispõe à doença. Em melanomas 2+, o risco associado ao bronzeamento artificial (OR, 1,97; 95% CI, 1,23-3,16; regressão logística, P < 0,05) superou o da história familiar (OR, 1,46; 95% CI, 0,89-2,39; χ2, P = 0,13) e se assemelhava ao risco associado a mutações germinativas em MITF (OR, 2,45; 95% CI, 1,55-3,89) e MC1R (OR, 1,38; 95% CI, 0,81-2,35). Os dados foram limitados para números mais altos de MPMs, mas sugeriram que o risco relacionado ao bronzeamento artificial pode superar o de mutações germinativas de baixa/intermediária penetração.”

Conclusão e incentivo a campanhas de conscientização 

Segundo os autores foi encontrado um risco significativo de múltiplos melanomas primários associados ao bronzeamento artificial, sugerindo a necessidade de um acompanhamento mais próximo dos pacientes com histórico de uso dessas câmaras, sendo necessário incentivar o envolvimento da população em campanhas relacionadas aos riscos dos aparelhos de bronzeamento.

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