A pandemia de Covid-19 interrompeu diagnósticos, acompanhamentos, tratamentos e cuidados de saúde. Ao longo de dois anos, houve um impacto significativo principalmente no tratamento oncológico, com adiamentos, cancelamentos de consultas e interrupções de procedimentos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), com dados do DATASUS, em 2019 foram realizadas 271.818 biópsias de câncer cutâneo; em 2020 houve uma queda de 42% neste número, sendo 157.968 biópsias. Como resultado, casos de câncer que tiveram atraso no diagnóstico e outros que já haviam sido identificados aumentaram o estadiamento, tornando-se mais avançados. Além disso, há a questão do decréscimo de novos casos – resultante dos casos não diagnosticados – outro fator associado ao impacto desencadeado pela pandemia.
Com o objetivo de quantificar o impacto da pandemia no estadiamento do melanoma durante o diagnóstico, um artigo publicado no JAAD em junho, por Trepanowski N. et al., utilizou dados de coorte retrospectivos coletados em 12 centros acadêmicos dos Estados Unidos.
Aumento no diagnóstico de melanomas avançados
Os autores observaram um aumento na proporção de melanomas mais avançados, com características agressivas, semelhantes a estudos de coorte menores efetuados no exterior e nos EUA. “Nossos achados, juntamente com taxas decrescentes de novos casos de melanoma nacionalmente, sugerem que os casos de melanoma não foram diagnosticados durante a pandemia, sendo posteriormente identificados em estágios tardios”.
No artigo, a frequência relativa do melanoma em estágio I (67,6% vs. 72,7%; P=0,001) foi menor na era Covid (de 1/3/20 a 28/2/21), mas maior nos estágios II (18,3% vs. 14,8%; P=0,006) e IV (6,1% vs. 4,6%; P=0,045). Os autores relataram um aumento das taxas de melanomas identificados pelo paciente e uma redução nos diagnósticos médicos durante a pandemia, com estadiamento mais avançado no diagnóstico, sugerindo a importância da triagem de indivíduos de alto risco. “Nossas descobertas enfatizam a importância de minimizar os atrasos no diagnóstico do melanoma.”